Aversão

A aversão, ou nojo, é definida pelo dicionário Michaellis como: “Repulsa em relação a algo ou a alguém; abominação, antipatia, repugnância.” Ou ainda: “Aversão intensa uma pessoa ou coisa que não se pode tolerar ou admitir; execração, ódio, rancor.” A aversão é uma emoção de proteção, trata-se de uma reação àquilo que julgamos ser tóxico ou maléfico para nós de alguma forma. Assim como as outras emoções, possui características faciais muito próprias, que incluem a contração dos lábios e das pálpebras e o afastamento do objeto ou pessoa que causou o sentimento de repulsa. Embora o paladar seja o principal, todos os nossos cinco sentidos tem um papel fundamental na interpretação que vai levar à emoção do nojo, e consequentemente à atitude de repulsa.

A aversão é considerada uma proteção evolutiva, pois nos mantém afastados de perigos, como por exemplo uma contaminação ou ataque de insetos ou outros animais nocivos. E além disso nos ajuda também na orientação de nossos comportamentos, nos afastando daqueles que são socialmente reprováveis. Isso porque a aversão pode ser central ou aprendida. Quando trata-se da aversão aprendida, temos quatro categorias: a doença, o estranho, a tragédia e o moral.

As crianças têm demonstrações de repulsa desde muito cedo, apesar de só mais tarde conseguirem identificar essa sensação como um sentimento de aversão. Além disso, há alguns nojos que crianças muito pequenas ainda não sentem, como o das fezes. A sensação de nojo é universal, mas apesar de todas as culturas experimentarem e demonstrarem essa emoção, há diferenças de gênero, faixa etária, espécies e até mesmo culturais que são importantes de se considerar quando falamos no assunto.

Quando falamos da aversão moral, estamos falando também de ética e cultura. Em partes da China, por exemplo, arrotar após as refeições pode ser sinal de gratidão. Enquanto no Brasil, sabemos que demonstra falta de educação e pode causar repulsa àqueles que estão à mesa. Também podemos sentir aversão a comportamentos que consideramos reprováveis, como agredir, mentir, roubar e matar. E essa avaliação dos comportamentos também pode sofrer influência sociocultural. Em uma pesquisa realizada por Paul Ekman, o psicólogo constatou que o termo mais citado quando perguntado a estudantes qual é a situação mais repulsiva que uma pessoa poderia vivenciar, foi a moral. A maior parte das respostas estava relacionada a abusos sexuais com crianças.

Muitas vezes a aversão também pode estar relacionada a generalizações e preconceitos. No Brasil, por exemplo, um país marcado pelo racismo, vemos muitas associações entre violência, criminalidade e pessoas pretas e/ou pobres. Esse preconceito aumenta a discriminação e as atitudes de aversão à essas pessoas.

Assim como a repulsa por corpos gordos, pessoas e demonstrações de afeto homossexuais ou qualquer outro preconceito discriminatório. Por isso a importância de promover debates e movimentos em torno de conscientizar e desconstruir esses preconceitos, que podem estar ligados também ao estranho, ou seja, desconhecido.

Quando a aversão ou o nojo por determinada coisa se torna exagerada e começa a interferir na rotina e no bem estar da pessoa, pode haver o desencadeamento de uma fobia. Pessoas podem desenvolver distúrbios alimentares quando tem muito nojo à comida, fobias sociais quando se trata de repulsa por outras pessoas e transtornos obsessivos compulsivos quando desencadeiam uma rotina de limpeza exaustiva, tendo a sensação permanente de sujeira no ambiente ou em si mesmas. No início da pandemia do coronavírus em 2020, falava-se muito da sensação constante de contaminação, e de como isso desencadeava rotinas de limpeza e desinfecção exaustivas a ponto contribuir negativamente para o sofrimento já instalado pelo contexto da doença.

Por fim, é importante destacar que a aversão pode ser uma emoção muito importante na comunicação com as crianças e adolescentes. Crianças que ainda não se comunicam com efetividade ou clareza, assim como adolescentes com dificuldade nessa área, podem demonstrar que há algo de errado acontecendo através das evidências de seus sentimentos de aversão, especialmente por outras pessoas. Uma criança que sofre agressões ou abusos de um adulto, por exemplo, pode desenvolver sentimentos e comportamentos de aversão por esta pessoa. Mesmo que não consiga explicar o motivo do que sente, quando uma criança demonstra resistência por um adulto ou local específico, muda seu comportamento, ficando mais agressiva, irritada, se fechando, chorando, ou demonstrando algum outro sinal físico ou emocional, precisamos ficar atentos a esses indícios de aversão e investigar os motivos para estarem ocorrendo. Visto que no Brasil, até o ano de 2019, a média diária de notificações de agressões contra crianças e adolescentes era de 233. Sabemos ainda que muitas agressões são subnotificadas, muitas vezes por ameaças feitas pelos agressores a essas crianças. A aversão é uma emoção que muitas vezes tem a função de nos proteger, sendo assim, o mais prudente é estarmos sempre atentos a suas manifestações.

Texto produzido pela psicóloga: Caroline Ribeiro

Referências:

  • Site: https://www.noticiasmagazine.pt/2020/quando-o-cerebro-ativa-a-sensacao-de-nojo/historias/255518/
  • Revista Galileu. Acesso: http://revistagalileu.globo.com/EditoraGlobo/componentes/article/edg_article_print/0,3916,578948-17191,00.html
  • Site: https://veja.abril.com.br/brasil/brasil-registra-diariamente-233-agressoes-a-criancas-e-adolescentes/
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