Uma surpresa é um fato ou uma coisa inesperada, algo que não era previsto. É a emoção mais breve de todas e assim como acontece repentinamente, desaparece da mesma forma, pois logo se liga a uma outra emoção, a depender do contexto em que aconteceu. Toda vez que nos deparamos com o desconhecido, a emoção é a da surpresa, somos surpreendidos e ficamos em estado de alerta. A partir do estado de alerta, avaliamos rapidamente a situação que nos gerou a surpresa, e assim fazemos uma conexão com as outras emoções básicas que são necessárias naquele instante.
A surpresa é considerada uma emoção neutra, e por isso é difícil encontrar um antônimo para a palavra “surpresa” nos dicionários tradicionais. O mais próximo que encontraremos será “indiferença”. Porém, como em sua definição encontramos palavras como inesperado e imprevisto, considero importante falarmos um pouco sobre esses adjetivos e seus antônimos.
O acontecimento de um fato inesperado nos coloca diante da indeterminação da vida. E nem sempre lidamos bem com este fato, pois estamos sempre buscando aquilo que nos traz segurança, ou seja, o que é conhecido e controlável. Mesmo que muitas vezes as sensações de controle e segurança sejam ilusórias, pois diante da indeterminação da vida, qualquer coisa pode acontecer. Vimos isso durante este período de pandemia do novo coronavírus. Um vírus desconhecido e completamente inesperado modificou toda nossa rotina, trazendo uma sensação de insegurança e mostrando que não temos controle sobre a vida.
Para muitas pessoas, se deparar com a falta de controle sobre sua própria vida pode ser algo desesperador. Neste exemplo, podemos dizer que a emoção inicial de surpresa se conectou com a emoção de medo, do desconhecido, do futuro incerto, da possibilidade de uma doença. Também observamos algumas pessoas demonstrando raiva por estarem diante de contingências indesejadas e cujas mudanças estavam fora de seu controle. Enfim, pudemos observar diversas reações, assim como observamos durante muitos outros exemplos da vida em que a surpresa acontece, afinal, a surpresa é um reflexo da vida, já que o futuro é sempre inesperado, por maior que seja nossa sensação de previsibilidade.
Quando paramos para pensar na forma como lidamos com a surpresa, precisamos considerar duas coisas. A primeira coisa é que nossa reação pode estar ligada ao modo como lidamos com a emoção que se conectará com a surpresa inicial. Ou seja, se for uma surpresa positiva, podemos ficar alegres, e então reagiremos com nosso modo de reagir à alegria. Porém, precisamos considerar ainda a nossa reação com a surpresa em si, ou seja, com o inesperado. E é por isso que algumas pessoas não reagem bem mesmo quando a surpresa tem a intenção de ser positiva, como por exemplo pessoas que não gostam de festas surpresas. E por isso é importante refletir sobre qual é a sua forma de lidar com a indeterminação da vida, com os acontecimentos inesperados. Pessoas que não lidam bem com surpresas podem apresentar uma tendência a uma maior dificuldade de adaptação, já que preferem uma rotina controlada, previsível e sem muitas mudanças.
A surpresa também pode ter um lado ligado a emoções positivas muito marcantes. Não à toa é algo que aparece frequentemente em nossos planos quando queremos agradar uma pessoa que gostamos. Como tem essa característica de ser uma emoção inicial, talvez até introdutória, a surpresa facilita o processo de atenção, curiosidade e aprendizagem e nos conecta mais rápida e intensamente com a “próxima” emoção. Isso também acontece porque essa emoção esvazia a memória de trabalho residual para lidar com o estímulo imprevisto. Por isso muitas vezes escolhemos a surpresa quando queremos que alguma pessoa sinta alegria, porque sabemos que há uma chance maior dela se conectar com essa emoção positiva. E também por isso temos a sensação de que a emoção de alegria se torna mais intensa quando não estamos esperando por aquele acontecimento.
A surpresa é então, uma emoção muito útil, que tem o objetivo de clarear nosso sistema nervoso para prepará-lo para a emoção que está por vir a partir do estímulo gerado. Isso nos ajuda a responder de maneira mais adequada à situação de mudança repentina e ao novo que se apresenta. Além disso, refletir sobre a maneira com a qual lidamos com as surpresas, pode nos dar indícios sobre a nossa forma de lidar com o inesperado e com a nossa falta de controle (ou sensação ilusória de controle). Essas reflexões podem ser importantes para que consigamos pensar novas formas de lidar com a indeterminação da vida e assim nos adaptarmos melhor a situações não planejadas.
Texto produzido pela psicóloga: Caroline Ribeiro
Referências:
- Site: https://amenteemaravilhosa.com.br/a-surpresa-emocao-fugaz-inesperada/
- Video: Crise e Crítica: ansiedade e compulsão –
https://www.youtube.com/watch?v=CQKdGwhI5Go&t=2568s - Video: A função adaptativa da surpresa –
https://www.youtube.com/watch?v=4MBShEyClHk